Aceitar Que Não Temos Controlo Sobre a Vida

“Qual o verdadeiro valor da fraqueza? O que é esta impotência que necessitamos de reconhecer para podermos crescer? Existirá realmente?

Na nossa cultura ocidental, a maioria das pessoas gere o emprego da vida bastante bem. À superfície, não parecemos fracos nem impotentes. Temos um certo êxito: realizamos o nosso trabalho, temos bastante para comer, temos algum tempo livre para desfrutar, compramos acções, temos filhos, navegamos na Internet, organizamos reuniões estratégicas. Então, porquê toda esta conversa acerca da fraqueza e da impotência? Que tem isso a ver connosco? Porque deveríamos, subitamente, desenvolver essas estranhas qualidades, quando as nossas vidas parecem decorrer bastante bem?

Superficialmente, a impotência parece algo de remoto. Apesar dos conflitos, da violência e do sofrimento que amaldiçoam grande parte da humanidade – a que nenhuma nação está agora imune -, a vida no Primeiro Mundo é ainda relativamente segura em comparação com o resto do globo. Aqui, a maioria das necessidades básicas das pessoas são satisfeitas e, além disso, muitas desfrutam de uma abundância de bens e de conforto.

Mas um exame mais atento, por debaixo da superfície, revela que não estamos a ser assim tão bem sucedidos. O brilho e os atavios da boa vida encobrem a tristeza e a fúria, a amargura e a mágoa. A maioria de nós acalenta uma necessidade insatisfeita de intimidade com os outros. Em muitos de nós, este desejo de ser amado manifesta-se como uma dor lancinante que nos desperta todas as manhãs e perturba o nosso sono todas as noites.

É frequente determo-nos a pensar em questões dolorosas sobre o significado da vida: quem sou eu e por que vivo? Porque me forço a acordar todas as manhãs e ir para um emprego de que não gosto? Porque estou constantemente triste e preocupado? Porque receio o futuro, a doença, a pobreza e a morte? Terei de passar o resto da minha vida só? Porque me sinto tão só, embora acorde ao lado de alguém todas as manhãs? Estarei condenado a permanecer junto dessa pessoa apenas por não ter coragem para partir? Porque nunca pareço ter dinheiro suficiente? Porque não me respeitam os meus filhos? Porque acordo sempre com dores de cabeça? Porque tenho dores de estômago constantes? Porque nunca pareço ter tempo livre? Por que motivo os problemas de trabalho me despertam a meio da noite? Por que motivo a vida não mudou para melhor?

De onde provêm estas questões? Que significam? Serão perturbações externas que sabotam injustamente a nossa felicidade – intrusos que devem ser silenciados como irrelevantes e insignificantes? Ou teremos de prestar uma séria atenção a estas mensagens? Será que estas questões resultam da nossa incapacidade de enfrentar a fraqueza? Nascerão no local em que secretamente nutrimos sentimentos de abandono e rejeição? Se tentarmos, durante toda a vida, evitar algo de importância essencial no nosso interior, essa parte reprimida de nós acabará por emergir com tal intensidade, que abala as fortificações que construímos para proteger a nossa falsa felicidade.

Estas questões surgem do mais profundo de nós, da nossa verdadeira identidade. Com persistência irritante, batem constantemente à porta, pois trazem consigo mensagens essenciais acerca de tudo o que negligenciámos a abandonámos em nós próprios e nas nossas vidas. Provêm da região da fraqueza. São emissários do local para o qual nos dirigimos.

Mas para onde nos dirigimos? Alguém ainda saberá o rumo da vida?

De uma coisa, pelo menos, podemos estar certos: para todos nós, a vida que nos é familiar terminará um dia. Dirigimo-nos para o momento em que abriremos as mãos e a vida se escoará. A morte é a derradeira fraqueza. Significa perda total de controlo sobre as nossas vidas – impotência e rendição totais.

Será que esta perda de controlo que nos aguarda no final dos nosso dias constitui um indício daquilo que importa na vida? Talvez a vida nos convide a renunciar ao controlo antes de este nos ser retirado, irrevogavelmente, pela morte. A realidade da morte indica o valor da vida que a antecede. A morte lembra-nos de vivermos bem as nossas vidas, pensando naquilo que é verdadeiramente importante. Uma vez que a morte nos despojará de tudo o que é desnecessário, oferece-nos uma linha de conduta para as nossas vidas. Tudo o que não resistir perante a morte não é, afinal, importante. Neste sentido, a morte pode ser considerada como o auge da vida humana. É a fanfarra vitoriosa que termina o processo de crescimento de toda uma vida. É a nossa cerimónia de prémios mais alegre – e o nosso prémio consiste na entrada para algo novo, no final da nossa antiga existência.

Dirigimo-nos para a fraqueza absoluta. Mas na fraqueza aprendemos o que é importante e duradouro na vida. Ao reconhecermos a nossa fraqueza, entramos na vida através da morte. As nossas fachadas desmoronam-se, o nosso falso eu morre e unimo-nos ao nosso verdadeiro e autêntico eu.” – Tommy Hellsten

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