“Quando nos retiramos do momento presente, retiramo-nos do único momento em que a vida está presente. Quando adiamos a vida para mais tarde, nunca nos envolvemos. Podemos preencher o nosso tempo com tantas tarefas, que nunca se torna necessário determo-nos e enfrentar a realidade. Quando não temos tempo para reflectir, nunca necessitamos de enfrentar o nosso vazio e a nossa imperfeição. Quanto maior é a nossa angústia, mais rápido é o nosso ritmo. Quanto mais rápido é o nosso ritmo, maior a nossa angústia. Ironicamente, parecemos fugir daquilo de que estamos à procura: a experiência de sermos amados e valorizados. Procuramos desesperadamente por toda a parte algo que poderíamos encontrar no nosso interior, no nosso ser autêntico, a nossa fraqueza, a nossa humanidade. Se nos permitissemos comunicar a nossa fraqueza e vulnerabilidade, alcançaríamos o amor e a convicção de que somos suficientemente bons e temos direito a uma boa vida. Poderíamos alcançar aquilo que procuramos, simplesmente detendo-nos e estando abertos para o receber.
Outras formas de ocultar a nossa fraqueza humana incluem tentar tornarmo-nos perfeitos. Quando decidimos que sabemos tudo e sabemos como fazer tudo bem, entramos num território em que a fraqueza é proibida. Escapamos à fraqueza tentando alcançar o seu oposto, a perfeição. Se formos perfeitos, nunca ninguém será capaz de nos apanhar em falta – mas também nunca ninguém será capaz de nos amar. O escudo da perfeição protege-nos do amor e ao escudarmo-nos contra o amor, negamos a nós próprios a oportunidade de uma vida autêntica.
Também podemos controlar a vida tornando-nos invisíveis, assegurando-nos de que não temos opiniões, necessidades ou sentimentos complicados – melhor ainda, de que não temos quaisquer opiniões. Ocultamos os nossos talentos ao invés de utilizá-los, pois ser criativo atrairia a atenção, o que é perigoso. Quando nos apagamos, de modo a não podermos ser vistos, deixamos de ser vulneráveis. Deixamos de necessitar seja do que for dos outros, nem sequer de amor; deixamos de testar o ambiente que nos rodeia seja como for, nem ocupamos o espaço que nos pertence por direito. Não defendemos uma posição, não provocando problemas nem incómodos – e ao nunca corrermos o risco de sermos vistos como realmente somos estamos efectivamente a controlar o ambiente que nos rodeia. Criamos segurança, excluindo tudo que possa sugerir vida. O preço que pagamos por isto pode ser elevado, mas sentimos que nenhum preço é demasiado elevado quando a segurança é uma prioridade crucial.
Outra estrutura de segurança consiste em viver a vida dos outros, de modo a não termos de viver a nossa. Podemos concentrar-nos nos assuntos dos outros; podemos considerar, sentir e apreender as coisas do seu ponto de vista. Ao proceder deste modo, evitamos analisarmo-nos. A necessidade compulsiva de cuidar dos outros constitui uma manifestação desta auto-suficiência pouco saudável: salvamos constantemente os outros das consequências das suas acções; ajudamo-los, compreendemo-los, apoiamo-los, consolamo-los e encorajamo-los, ainda que ninguém nos tenha pedido para o fazermos. Ao concentrarmo-nos nos outros, perdemos o contacto connosco próprios quase por completo.” – Tommy Hellsten