“Actualmente, a dissolução de um casamento tornou-se a regra, ao invés da excepção. Achamos cada vez mais difícil fazer com que a união dure. Como consequência, parecemos estar a perder a coragem para entrar no matrimónio. Preferimos outros acordos, pois é mais fácil escapar deles.
O que será que torna tão difícil para nós estabelecermos laços duradouros e mantermo-nos numa relação? Em inúmeros casos, o casamento fracassa porque um dos cônjuges é incapaz de respeitar o outro como pessoa. Este respeito implica reconhecimento, apreço e concessão de espaço para a autonomia do companheiro.
O amor acalenta e incentiva a personalidade individual. Esforça-se por criar uma atmosfera em que a verdadeira identidade de cada companheiro possa nascer e em que possamos sentir e manifestar a profundeza total das nossas personalidades. O amor só pode florescer numa relação em que o respeito pela pessoa do outro – a sua integridade e autonomia – for colocada em prática. Em tal relação, acabamos por ser vistos como as pessoas que realmente somos.
Se não conseguimos apreciar a autonomia de um companheiro, não vemos ou recusamo-nos a ver a verdadeira identidade do companheiro. A nossa percepção encontra-se distorcida por necessidades insatisfeitas que ainda trazemos da infância ou adolescência – necessidades que têm a ver com os nossos pais. Não podemos esperar, razoavelmente, que o nosso companheiro satisfaça essas necessidades.
Ainda assim, as nossas necessidades infantis insatisfeitas não perdem intensidade, nem desaparecem com o tempo. Ruminam no nosso interior, reais e irresistíveis. Exigem satisfação. O nosso passado começa a sabotar o nosso presente com expectativas irrealistas, deixando de reconhecê-las como necessidades da criança de há muito. No presente, estas necessidades transformam-se em exigências insensatas, que geralmente fazemos aos que se encontram mais perto de nós – muito frequentemente um cônjuge. Podemos desafiar limites pessoais, sem respeitar o nosso cônjuge como pessoa adulta e distinta de nós. Sobrecarregamos os outros com responsabilidades inadequadas, esperando que eles vençam a nossa angústia. Ao invés de nos unirmos ao nosso cônjuge em igual parceria, exploramos a relação para os nossos próprios objectivos. Esta exploração assume diversas formas; podemos, por exemplo, agarrar-nos desesperadamente a um cônjuge e esperar que este nos forneça um grau de segurança e protecção que não é possível esperar que nenhum adulto forneça a outro.
A vida não é segura. Enquanto crianças, temos o direito de esperar que os adultos que nos rodeiam nos forneçam refúgio e protecção. Mas quando nos tornamos adultos, temos de aprender progressivamente a enfrentar, por nós próprios, a imprevisibilidade e a insegurança inerentes à vida. Alguns adultos não estão dispostos a aceitar esta responsabilidade; agarram-se aos outros e recusam crescer, esperando que os outros assumam o papel de adultos em seu lugar. Culpam os outros pelos seus infortúnios e esperam que os outros assumam a responsabilidade pela sua angústia. Ao procederem deste modo, comportam-se como criancinhas, nunca necessitando de dar algo ou ter os outros em consideração. Não reconhecem quaisquer responsabilidades; reconhecem apenas os seus direitos.
A vida é uma responsabilidade que não podemos delegar noutra pessoa. Quando nos tornamos adultos, temos de deixar de esperar que os outros tomem conta de nós, temos de nos tornar nos nossos próprios pais. Temos de crescer e tornarmo-nos pessoas dispostas a assumir a responsabilidade pelas nossas vidas e, na medida do necessário, confrontar o nosso passado.” – Tommy Hellsten