Crescemos Com os Erros

Um homem de génio não comete erros. Os seus erros são volitivos e são os portais da descoberta.

James Joyce escreveu isto, em referência a Shakespeare. Talvez seja verdade quando se trata de génios. Quem sabe? Mas o resto de nós comete erros em abundância, e também não intencionalmente. Cometemos erros porque somos humanos, porque sabemos demasiado pouco, porque imaginamos que conhecemos mais do que realmente conhecemos.

Cometemos erros quando negligenciamos a importância de um momento, quando pensamos somente no momento.

Cometemos erros quando nos tornamos impacientes; cometemos igualmente erros quando somos indecisos. Há actos insensatos; há falhanços insensatos ao agir. Cometemos erros por arrojo, cometemos erros por timidez. Cometemos erros quando somos abertamente ambiciosos e quando não somos suficientemente ambiciosos. Cometemos erros quando permitimos que as nossas acções se tornem desligadas dos nossos valores.

Exactamente porque os erros decorrem de muitas causas, aparecem em todas as formas e tamanhos. Há pequenas gafes, que nos embaraçam por um momento ou dois; há erros grandes, que nos enchem de desgosto ou remorso por anos ou décadas. Mas, seja qual for a sua origem ou escala, há uma coisa que todos os erros têm em comum: são oportunidades para aprender.

São portais de descoberta, não somente para génios mas também para o resto de todos nós.

Quando damos uma resposta errada a uma das inúmeras questões da vida, estamos pelo menos um passo mais próximo de uma resposta correcta, ou, pelo menos, da resposta que é correcta para nós. Quando nos desiludimos por inatenção ou falta de convicção, a dor aguda que sentimos é um saudável recordar para manter os nossos padrões e a nossa vigilância. Quando fazemos asneiras e somos confrontados com as consequências dos nossos erros, temos a oportunidade de compreender o que não funciona e por que razão.

Em resumo: crescemos por fazer asneiras.

Acentuo isto porque tenho observado que, especialmente em tempos difíceis ou incertos, muitas pessoas parecem ter um medo terrível de cometer erros, como se um erro fosse uma humilhação pessoal da qual se não recuperaria nunca, a terrível “marca negra” num registo permanente.

Mas esta visão não é exacta. Os erros são muito raramente permanentes; a maioria deles pode ser prevista com menos dificuldade e drama do que se imagina, e não há nada de vergonhoso acerca de os cometer. Há, contudo, algo triste e que limita, acerca do medo de os cometer.

Se nos permitirmos ser controlados pelo medo de uma passo em falso, só podemos andar nos caminhos mais largos e mais percorridos. Se recusamos dar a nós próprios um desconto por fazer asneira, então estaremos inclinados a não aproveitar oportunidades. E, se não aproveitamos oportunidades, podemos nunca encontrar a nossa paixão ou a nossa mais verdadeira identidade. Se temos medo que a batida do nosso próprio baterista possa conduzir-nos a um passo em falso, então só nos resta caminhar juntamente com qualquer outra pessoa que não ele.

E sabe que mais? Mesmo se jogarmos pelo seguro, tanto quanto pudermos, cometeremos erros, de um modo ou de outro. Todos o fazemos. Os erros são inevitáveis. São parte da vida.

Se a vida é o que fazemos dela, e se queremos que as nossas vidas sejam vividas e autênticas, então temos de aceitar o facto que erraremos, aqui e acolá, ao longo do percurso. Não podemos eliminar erros; contudo, podemos também aproveitá-los, admiti-los quando ocorrem, perdoar-nos por os ter cometido e, acima de tudo, aprender com eles.

Nenhum erro devia ir para o lixo!

Erros são inevitáveis, por isso podemos também aceitá-los, perdoar-nos e avançar. Os nossos erros podem causar-nos inconveniência, podem custar-nos tempo e dinheiro, mas – assumindo que são erros honestos – eles não são vergonhosos. Cada erro é uma oportunidade de aprender, um marco, na sinuosa estrada, de onde nós estivemos, onde estamos e para onde pensamos estar apontados.

Se, por medo de ser deixados para trás, ou de dar algum passo errado do qual não recuperaremos, negarmos a nós próprios a permissão de cometer erros, então privar-nos-emos a nós próprios dessas oportunidades de aprender. Pior, quando cometemos erros mas recusamos admiti-los, por teimosia, ou por insegurança, ou por desatenção, falhamos a oportunidade de saltar do erro e encaminharmo-nos para uma direcção melhor.

Perdemos a oportunidade de nos tornarmos melhores em ser quem somos.

Aqui está ainda outro daqueles paradoxos em que pareço incorrer, sempre que tento exprimir em palavras simples algo verdadeiro e básico acerca da vida: nós somos, e não somos, a mesma pessoa que éramos ontem. Há, seguramente, uma continuidade em quem somos. É como reconhecermos as nossas faces ao espelho cada manhã, como evocarmos as espécies de coisas que nos fazem rir, como mantermos lealdade e firme afeição nas nossas relações.

Mas é igualmente verdade que estamos sempre a mudar, a crescer, a evoluir. Cada dia conhecemos um pouco mais acerca do mundo e um pouco mais acerca das nossas mentes e corações. Os erros que temos cometido, e as correcções de rumo que resultaram de tais erros, são parte essencial da nossa evolução. Assim, se temos a esperança de nos sentirmos bem acerca da pessoa que somos agora, necessitamos considerar com sinceridade e aceitação a pessoa que fomos então, quando cometemos esses estúpidos erros.” – Peter Buffett

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