Crescer Com a Insegurança

“Se desejarmos obter novamente a nossa vida autêntica, temos de estar dispostos a enfrentar a solidão heróica. Esta ideia desencadeia sentimentos de enorme insegurança, motivo pelo qual frequentemente nos agarramos à segurança oferecida pelo convencionalismo: procedemos como os outros e vergamo-nos perante as instituições que recompensam a nossa lealdade. Mas o que sucederá quando essas instituições começarem a sufocar-nos? O que sucede quando a segurança se transforma numa prisão em que perdemos a sensação de estarmos vivos? O que sucede quando a corrente da vida deixa de circular em nosso redor e a água permanente começa a exalar mau cheiro?

Quando passamos por catástrofes na vida, geralmente apreciamos coisas diferentes das que apreciávamos anteriormente e os nossos valores aprofundam-se. Isto pode ocorrer, por exemplo, quando um ente querido morre ou quando nasce um bebé – a vida está tão intensamente presente no nascimento e na morte que teríamos de ser totalmente insensíveis para não o notar.

Uma catástrofe pode surgir ainda sob a forma de desemprego, doença, alcoolismo ou divórcio. Tudo isto constitui crises que podem abalar tão profundamente a nossa vida, que na realidade nos apresentam uma oportunidade de começar de novo. Estas experiências parecem cruéis e inúteis, de início, mas depois poderemos estar-lhes gratos. Porquê? Porque estas catástrofes destroem a segurança que construímos, precisamente para evitar a insegurança inerente à vida.

Não é invulgar as pessoas orarem espontaneamente, quando enfrentam uma crise. Uma oração constitui um grito de ajuda para prosseguirmos, quando perdemos a força de prosseguirmos por nós próprios; por outras palavras, a busca e a fé parecem surgir quando estamos deprimidos. As nossas vidas e valores aprofundam-se quando chegamos perto de atingir os nossos limites. Penso que é justo dizer que as catástrofes podem até fazer-nos reviver novamente.

Em vez de esperar até que uma grande catástrofe nos atinja, podemos aprender a criar outras mais pequenas, que nos mantenham vivos; podemos aprender a fazer opções que nos impeçam de entrar em hibernação, um estado sonolento de falsa segurança. Que significa isto? Essencialmente, o mesmo que ser heróico: quando desmantelamos aquilo que nos tem oferecido segurança, criamos uma insegurança que nos leva a procurar uma fonte de segurança mais profunda, a verdadeira e duradoura segurança. Se nos agarrarmos com todas as forças às estruturas de segurança que erigimos, nunca descobriremos se tal segurança verdadeira existe. Se nunca fizermos nada que nos assuste, se optarmos sempre por aquilo que parece seguro e familiar, nunca enfrentando os nossos limites – nunca cresceremos.

O heroísmo implica procurar situações que suscitem receio, que nos permitam entrar em contacto com os nossos receios. Tememos aquilo que não conseguimos controlar e, assim, os nossos receios indicam o rumo que deveríamos escolher, nos nossos esforços para crescermos. Quando começamos a experimentar coisas que nos assustam, perdemos o controlo. Se os nossos receios sufocaram a nossa vida, isso é o melhor que nos pode suceder.

Mas que receamos tanto?” – Tommy Hellsten

Ricardo Babo

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