“Eu sou o teu segredo. Eu sou aquilo que fazes quando não está ninguém por perto. Eu sou o teu prazer culposo. A parte de ti próprio que não toleras admitir. Manténs-me trancada, oculta de vista. Tens tanto medo do que pensará o mundo se fores exposto.
Eu sou o teu escape.
A tua retorcida companheira.
O teu refúgio.
O teu amor.
Sou a fonte da tua confissão – ou talvez não me confesses sequer. Sou a tua confusão e o teu conflito. A tua batalha interior. Sou a tua pornografia. A tua sexualidade oculta. O teu charro nocturno. As tuas garrafas escondidas debaixo do lava-louça. Sou as tuas compras. A dívida do teu cartão de crédito. Os teus comprimidos para dormir. A tua bisbilhotice. Sou tudo o que anseias e abominas.
Crês que eu te ponho à parte. Que mais ninguém se sente como tu sentes. Que mais ninguém faz o que tu fazes. Que a tua vida secreta é única e feia e só tua. Quando subjugado por mim, podes ouvir portas a fecharem-se com estrondo. Podes ver grades nas janelas. Erigiste a tua própria prisão, comigo no lugar de paredes. Sempre que eu estou na iminência de extravasar – liberta, apresentada a alguém na tua vida -, recusaste-te. Não és capaz. Receias que se as pessoas souberem de mim, te marginalizem. Não haveriam de entender. Apontar-te-iam o dedo e ririam. Ou pior. E portanto agarras-te a mim com toda a força.
Vou contar-te um segredo.
Há apenas uma maneira de começar a afrouxar o aperto que exerço em ti. Admite que eu existo. Diz o meu nome em voz alta. Sabes que queres fazê-lo, ainda que seja assustador. Podes sussurrá-lo. Fá-lo agora mesmo. Com a tua cabeça na almofada, dá-me voz. Ninguém ouvirá. Entende que, ainda que o fizessem, não importaria. Entenderiam, pois também eles estão familiarizados comigo.
Faz luz sobre mim.
Não te amedrontes.
O que descobrirás é isto: Não estás só.
Quando tomares consciência de que és um numa multidão, que ser humano é sentir-me, será aí que eu afrouxarei o meu aperto sobre ti.
Será aí que finalmente te largarei.” – Panache Desai