“Proveniente de uma falta de amor, o receio constitui o motivo da auto-suficiência pouco saudável e de todas as estruturas de segurança que concebemos. Quando sentimos receio, tentamos controlar a vida em vez de vivê-la; como tal, a via para uma vida saudável exige que enfrentemos o nosso receio. Assim, se sentirmos que a vida é vazia e desprovida de sentido, e nada de fascinante nos acontece, necessitamos de começar a viver perigosamente.
O que é, então, uma vida arriscada? Viver perigosamente significa transformarmo-nos naquilo que somos no nosso mais profundo íntimo, ou seja, significa destruir as nossas elaboradas construções de segurança e entrar em contacto com o nosso autêntico eu. Uma vida arriscada consiste em tornarmo-nos visíveis, permitindo que a nossa verdadeira personalidade surja.
Isto pode não parecer muito dramático nem perigoso, mas é bastante, na realidade: não podemos aproximar-nos do nosso íntimo mais profundo sem abandonar as estruturas de segurança que criámos. Se construímos o nosso sentimento de segurança sobre o álcool, temos de desistir dessa segurança. Se procurámos a segurança agarrando-nos ao conhecimento e à erudição, temos de nos tornar inocentes e indefesos, enfrentando o facto de que o conhecimento já não nos orienta na nossa viagem. Se estivermos sufocados de riquezas, temos de parar de fazer do dinheiro o nosso objectivo principal. Se nos agarramos ao nosso cônjuge, delegando a responsabilidade da nossa vida, temos de libertar-nos dele e aprender a sobreviver por nós próprios. Se nos agarramos à religião e ao pensamento a preto e branco, temos de reunir coragem para avançar para a liberdade. Se procurámos a segurança tornando-nos inofensivos e invisíveis, temos de nos tornar novamente visíveis. Se nos tornámos cronicamente amáveis, temos de aprender a exprimir a nossa raiva.
Como podemos constatar por estes exemplos, a mudança parece extremamente perigosa. Construímos habilidosamente as nossas estruturas de segurança, de modo a protegermo-nos dos sentimentos de grande insegurança que vivemos em alguma fase – geralmente com pouca idade. Quando começamos a pôr em causa e a desmantelar estas estruturas, que parecem ter fornecido a nossa única segurança, temos de enfrentar os sentimentos catastróficos que nos levaram a erigi-las, para começar. Assim, no paroxismo da mudança, podemos sentir que o nosso mundo está a ruir e que estamos a perder-nos e a perder a nossa sanidade.
Eis o motivo pelo qual muitas pessoas não se arriscam a deixar um casamento destrutivo. Não ousam enfrentar os sentimentos de insegurança que o facto de estar sós traria à superfície, com efeito, muitas pessoas prefeririam morrer do que ter de enfrentar esses receios. É também por esse motivo que muitos alcoólicos não conseguem deixar de beber; abandonar a sua única ilha de segurança seria expor os sentimentos e as questões por detrás da bebida. A verdadeira recuperação exige que abordemos tais questões – embora a sobriedade seja um pré-requisito, não basta, por si só.
Renunciar às nossas estruturas de segurança suscita frequentemente um receio tão grande, que não estamos dispostos a enfrentá-lo, até não termos outra hipótese senão abandoná-las. Ainda assim, muitas pessoas optam pela autodestruição ao invés da autodescoberta.” – Tommy Hellsten