“Não posso desfazer os meus erros; não posso renegá-los. O que tenho sido capaz de fazer é aprender com eles, aceitá-los, como parte do conjunto de coisas que fizeram a minha vida unicamente minha.
Mas erros são uma coisa; mágoas são outra. Erros acontecem e geralmente acabam. As mágoas deixam-se ficar. Um erro é um evento. A mágoa é atmosférica.
É moda, penso, negar ter quaisquer penas, reivindicar que, se uma pessoa pudesse viver outra vez, não faria qualquer mudança. Com toda a franqueza, penso que isto é asneira gabarola, ou talvez exactamente sintoma de uma vida que não tem sido exemplar. Ao longo de curso de anos e décadas, mágoas, pequenas e grandes, tendem a acumular-se. Como poderia ser de outro modo, dado quantas escolhas enfrentamos cada dia, quantas vezes somos desafiados a mostrar-nos à altura das circunstâncias? As mágoas são nada mais nada menos que evidência de se ter vivido; são como os pequenos arranhões ou cicatrizes que marcam os nossos joelhos e cotovelos. A boa nova é que, depois de um intervalo de tempo, já não doem mais; mas é fraudulento fingir que elas não estão lá.
Lamento as minhas hesitações.
Lamento as vezes em que não dei o devido valor ao misterioso poder do próprio compromisso.
O compromisso move o mundo. Ao mesmo tempo dá poder e cura-nos; é combustível e remédio juntos. É o antídoto para mágoa, apatia, falta de autocrença. O compromisso abate portas fechadas e nivela estradas com buracos. Compromisso gera confiança e justifica também confiança. Compromisso alarga os nossos esforços, para arrastar aqueles recursos bem fundos no íntimo que se encontram em poisio, até que decidimos descobri-los e usá-los.