“Gostaria de ser água…
Sou a água da chuva. Caio sobre as sementeiras. As plantas, a quem acalmo a sede, amam-me. Ama-me a terra a quem mantenho viva e fértil. Amam-me os homens que vivem nessa terra e dessa terra. Odeiam-me os veraneantes da praia, odeiam-me os animais desamparados que vagueiam pelas ruas…
Sou a água de um tanque. Estou aqui, à espera de ser utilizada. Sirvo para refrescar os camponeses e para banhar os animais. Não estou em condições de ser bebida porque estou suja e contaminada. Parada por demasiado tempo.
Sou a água das lágrimas de uma criança.
Sou a expressão mais autêntica da emoção, sou o chamariz dos únicos afectos incondicionais. Sou o símbolo da alegria e da pena.
Sou a água de um rio caudaloso.
Sou o lar de milhares de peixes, sou o movimento da natureza, sou o ruído do bosque e da pradaria. Sou o doce que amanhã será sal, quando chegar ao mar.
Sou a água de uma fonte cristalina, sou a banheira de uma multidão de passarinhos, sou o sorvo que acalma a sede do caminhante, sou a transparência da claridade do dia. Sou o símbolo mais claro do fluir da vida.
Às vezes sou vapor e às vezes, gelo.
E, em todas estas formas de ser, sou útil, sou inútil e às vezes até sou prejudicial.