Gratos Pelo Que Temos

Controlar

«Se ele vier, damos-lhe as boas-vindas, se ele for embora, não vamos atrás.»

“Nós nascemos com o desejo de controlar o mundo e as pessoas que nele vivem. Gritamos para que a Mãe nos alimente, sorrimos para recebermos a atenção por que ansiamos, amuamos quando alguém nos irrita e, quando nos sentimos desconfortáveis, recorremos a todo o tipo de fúrias. Achamos, implicitamente, que a vida se deve conformar aos nossos desejos, que os outros estão aqui apenas para nos manter satisfeitos. Este tipo de atitude infantil pode ser muito difícil de ultrapassar. Na verdade, podemos dizer que 99% da nossa preciosa energia vital é gasta na tentativa de manipularmos o mundo para que ele satisfaça os nossos desejos.

Tal como o bebé, a maior parte de nós está verdadeiramente consciente daqueles que nos rodeiam. Os outros existem antes de mais como objectos de satisfação das nossas necessidades. A noção de que eles têm as suas próprias vidas, sonhos e desejos que podem ser diferentes dos nossos, talvez até conflitantes com os nossos, é normalmente demasiado para nós aceitarmos. Aquilo a que chamamos amor nos relacionamentos não passa, muitas vezes, de ter alguém que se comporta de uma forma que nos faz sentir bem. E se o outro não o fizer, lançamos mão a tudo e mais alguma coisa para o controlar e alterar o seu comportamento.

Na nossa cultura, é considerado normal, e até mesmo saudável, «procurar o melhor». Ensinam-nos a desejar obter o máximo, a preencher as nossas necessidades, a saber como manobrar com sucesso os relacionamentos. Quando alguém consegue um bom partido, ostenta um belo anel ou qualquer outro sinal de vitória, é elogiado pelos seus pares e o seu estatuto eleva-se. Quando uma outra pessoa não foi capaz de manter um relacionamento, sente-se, muitas vezes, inadequada e envergonhada. A nossa própria identidade está completamente ligada à nossa capacidade de controlar com eficácia os nossos relacionamentos, ao tipo de pessoas com quem conseguimos estabelecer um «compromisso».

Muitas psicoterapias lidam com esta situação tentando ajudar os indivíduos a tornar-se mais «bem-sucedidos» no mundo através de manobras mais eficazes, ao serem mais capazes de satisfazer os seus desejos pessoais. No entanto, nós não costumamos parar para examinar o stress e a ansiedade enormes criadas pelo facto de termos de controlar os outros e a nós próprios, por termos constantemente de produzir por forma a termos algum valor, por estarmos sempre a procurar satisfazer um ou outro desejo.

Tudo isto advém da ideia de que nos cabe a nós carregar aos ombros tanto o mundo como os nossos relacionamentos. Quando algo corre mal, culpamo-nos, sentimos que deixámos algo por fazer. Se tivéssemos tomado mais algumas acções poderíamos ter mudado tudo. Seguindo este tipo de orientação, estamos sempre à procura da próxima coisa que vamos controlar, sempre a viver com a sensação de um perigo iminente. Com este estado de espírito, como é possível estarmos apaixonados?

Muitas pessoas não fazem sequer ideia de que exista uma forma de viver alternativa. Ainda não conhecem o caminho do Zen. A prática do Zen é o oposto disso. Não se foca na acumulação nem na obtenção. Não se preocupa com a forma como os outros nos vêem. À medida que praticamos, tornamo-nos gratos e preenchidos pelo que temos, seja o que for. O caminho do Zen para a satisfação baseia-se no viver a partir do nosso verdadeiro ser. E quando os praticantes do Zen vivem desta forma, as suas vidas tornam-se muitas vezes, e paradoxalmente, preenchidas por uma actividade, uma expressão e uma concretização maravilhosas.” – Brenda Shoshanna

Ricardo Babo

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