O Amor Não Implica Sacrifício

“Há muitas coisas que posso fazer para demonstrar, revelar, fortalecer, confirmar ou legitimar que amo alguém, mas há apenas uma que posso fazer com o meu amor, que é amar essa pessoa, dedicar-me a ela, concretizar o meu sentimento de afecto em consonância com o meu modo de o sentir. A forma como sinto o meu afecto será a minha forma de amar o outro.

A outra pessoa pode acolher o meu afecto ou recusá-lo, pode compreender o que ele significa ou ignorá-lo redondamente. Mas é a minha forma de a amar, não tenho outra.

Amar alguém e demonstrar-lhe o meu amor podem ser duas coisas diferentes para mim e para o outro. E em relação a elas, como a tantas outras coisas, podemos estar em absoluto desacordo sem que necessariamente um de nós esteja errado.

Quando alguém te ama, o que faz é dedicar-te uma parte da sua vida, do seu tempo e da sua atenção.

Quando uma pessoa nos ama, as suas acções mostram claramente quão importantes somos para ela.

Para saberes o quanto te amo, poderia fazer algo que gostasses que eu fizesse, sem compromisso, se me apetecesse. Mesmo não sendo natural para mim, poderia levantar-me de madrugada no dia 13 de dezembro, decorar a casa, preparar o pequeno-almoço, forrar as paredes do quarto de cartazes, encher a cama de presentes e dar uma festa à noite com os amigos… Porque sei que te deixaria feliz, poderia fazer isso uma vez, quando tivesse vontade. Mas se for obrigado a fazê-lo todos os anos para te agradar, não esperes que tenha prazer nisso. Não sendo algo que eu quisesse naturalmente fazer, talvez seja melhor para os dois que não o faça.

Porém, se nunca tenho vontade de fazer estas coisas, nem outras que te agradem, é porque algo se passa.

Com a convivência, eu poderia aprender a gostar de te mimar com algumas das coisas que aprecias. De facto, é o que acaba por acontecer. Mas tal não tem nada que ver com certas crenças espalhadas, com as quais não concordo e que contradizem tudo isto.

Falo especificamente dos sacrifícios por amor.

Por vezes, querem convencer-nos de que as relações importantes são aquelas em que uma pessoa é capaz de se sacrificar pelo outro, quer seja ou não feliz. Na verdade, não acredito que o amor implique sacrifício. Não acredito que o sacrifício seja uma garantia do meu amor pelo outro, e muito menos que ele seja uma regra que valide o amor por alguém.

O amor é um sentimento que alimenta a nossa capacidade de desfrutar das coisas em conjunto, e não uma medida de quanto estou disposto a sofrer por ti, ou de até que ponto sou capaz de renunciar a mim mesmo.

Em todo o caso, o nosso amor não pode ser medido pela dor que somos capazes de partilhar em conjunto, embora isto também faça parte da vida. O nosso amor é proporcional à nossa capacidade de percorrermos juntos este caminho, desfrutando ao máximo de cada passo e sendo cada vez mais capazes de tirar prazer de cada um desses passos, precisamente porque estamos juntos.” – Jorge Bucay

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