“Dizes-me que aquilo que escrevi sobre o amor te agradou, que te esclareceu coisas, e acrescentas que te é difícil perceberes se és amada ou somente querida ou somente necessitada…
Em primeiro lugar, porque queres mesmo saber o que o outro sente?
Creio que tudo é uma tentativa de te tranquilizares. A única coisa que é válida, em todo o caso, é o que tu sentes. Pergunta-te antes se TE sentes querida, necessitada, amada, e sê fiel a esse teu sentir.
Imaginemos que alguém te quer. Quer-te muito, mas tu não te sentes nada querida. Para que te serviria o seu carinho?
Imaginemos agora o contrário, alguém que te quer muito pouco e tu sentes-te absolutamente querida. Vais separar-te desse alguém por causa do que ele diz que sente?
Sempre pensei que a resposta mais bela a um «quero-te muito» é «e eu sinto-me muito querida por ti».
A outra coisa que dizes a respeito de ser demonstrativo, na minha opinião, não tem nada a ver com o sentir.
De facto, são coisas diferentes: «fazer», «mostrar» e «demonstrar».
Leva alguns minutos a responder a estas perguntas antes de continuar a ler:
1. O que é mostrar? Para que te mostro?
2. O que é demonstrar? Para que te demonstro?
Com certeza, terás notado que:
«Mostrar» é fazer uma coisa evidente para que tu a vejas.
«Demonstrar», em contrapartida, é uma actividade que procura provar uma coisa para que tu acredites nela.
Tudo isto significa que, quando «mostro», parto do princípio de que tu não vês e, quando «demonstro», parto do princípio de que tu não acreditas.
Quando a minha relação contigo não tem preconceitos, quando sou autenticamente eu e permito que tu sejas autenticamente tu, então não estou a emitir juízos preconcebidos. Portanto, não te mostro nada, não demonstro que te quero. Simplesmente, sou eu mesmo e faço o que sinto, sem me preocupar com o que vejas ou com que o creias.
E de tal modo vejo isto assim que, quando me encontro a mim mesmo a tentar mostrar seja o que for ou a querer demonstrar o que sou ou o que sinto, dou-me conta de que estou condicionado e a condicionar. E, ultimamente, quando mostro e demonstro, sinto-me ridículo.
Tens todo o direito de não ver e, sobretudo, o direito de não crer. Quem sou eu para querer que tu vejas ou creias tudo o que vejo ou creio?
Se todos estes argumentos não foram suficientes, pergunto a mim mesmo: como posso saber que tu não verias se eu não te mostrasse? Ou que não acreditarias se eu não o demonstrasse?
É evidente que a única maneira é: eu, no teu lugar, não teria visto; ou eu, no teu lugar, não teria acreditado…
Projecção! Pura projecção.