O Que É O Amor?

“O amor… O que é o amor?

Comecemos pelo óbvio.

O amor é um sentimento e, como tal, está, certamente, relacionado com o sentir… Sentir o quê?

Sem deixar de te recordar primeiro que não há absolutos, digo-te que, para mim, o que me dá maior gosto em identificar com o amor é o regozijo pela simples existência de outra pessoa; ou talvez devesse dizer do amado (pessoa ou não).

Isto significa que amar é independente daquilo que o amado faça, diga ou tenha; que o meu amor não depende de que o amado esteja ao meu lado ou se afaste; que quando amo não me agarro, não manipulo, não pressiono. Que amar, finalmente, é a aceitação total do outro.

Recordo agora Carl Rogers: «Quando percebo a tua aceitação total, então, e então somente, posso mostrar o meu eu mais suave, o meu eu mais delicado, o meu eu mais amoroso e, sobretudo, somente então, posso mostrar-te o meu eu mais vulnerável.»

Tudo o que já foi dito separa dentro de mim o amor de três coisas que costumam confundir-se com amar:

– Estar enamorado.

– Querer.

– Necessitar.

Necessitar é o facto de alguma coisa ser imprescindível (como o oxigénio). E, pessoalmente, duvido que se possa necessitar de alguém. Sim, eu sei que às vezes me convenço a mim mesmo de que «necessito» de alguém. E, no entanto, também sei que estou a mentir a mim próprio quando penso assim.

Sinto que, quando «necessito de ti», dependo de ti para sobreviver, obrigo-te implicitamente a tomar a teu cargo o meu afecto, desapareço como pessoa e tento transformar-te em alimento vital.

Querer, em contrapartida, sabe que não existe tal necessidade. Mas «querer» vem do latim quarere, que significa «tentar obter».

«Querer» é o desejo, o apetite.

«Querer» é querer para mim.

Se «te quero», estou a implicar-te numa espécie de pertença, numa pretensão, não numa exigência de estar, de permanecer, de me dar, de me valorizar.

«Se te quero, estou a cortar-te as asas e a deixar-te ao meu lado para sempre; se te amo, tenho prazer em ver crescer as tuas asas e tenho prazer em ver-te voar.»

A primeira vez que ouvi isto, estava um locutor a lê-lo na rádio. Mas ainda sinto a mesma inveja que senti naquele dia pelo facto de que alguém pudesse ser tão claro.

Estar enamorado não tem nada a ver com tudo o que já foi dito anteriormente, porque, para mim, «estar enamorado» não é um sentimento, mas uma paixão.

Que a paixão seja perturbadora, não tenho – pessoalmente – nenhuma dúvida. Mas atenção! Isso não quer dizer desagradável.

De facto, para mim – até agora, pelo menos -, enamorar-me por pessoas e objectos é uma das coisas mais belas que me pode acontecer…

Dir-te-ia que amo as minhas paixões, em especial quando me dou conta de que não preciso delas nem as quero comigo de forma permanente. Simplesmente, alegra-me sempre que contacto com a minha capacidade de me enamorar.

Encontro-me a cada dia com aqueles que receiam as suas paixões, que se assustam tanto com a desordem interior que nunca se permitem enamorar-se e, muito menos, odiar apaixonadamente.

No outro extremo, conheço pessoas que apenas sentem a partir das suas paixões efémeras, porque o que temem é a profundidade do sentimento. Vinculam-se apaixonadamente e, poucos dias ou meses depois, queixam-se de que a sua relação já não é a mesma que antes. E abandonam-na, desvalorizando-a, porque a paixão terminou.

Se eu pudesse escolher os meus sentimentos em relação às pessoas que me rodeiam, escolheria enamorar-me com toda a intensidade de que sou capaz.

Escolheria que, na altura em que essa paixão diminuísse, debaixo dela crescesse o sentimento.

Escolheria que nem eu nem o outro nos assustássemos com o desaparecimento da paixão e que soubéssemos enfrentar-nos com a mudança da intensidade para a profundidade.

Escolheria que esse sentimento fosse amor e não somente desejo.

E, finalmente, escolheria que se desse a possibilidade de voltar a enamorar-me, de vez em quando, pela pessoa que amo.” -Jorge Bucay

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