O Verdadeiro Sucesso Vem de Dentro

“Penso que é correcto dizer que vivemos numa sociedade que está extremamente preocupada com o conceito de “sucesso”.

Lutamos por sucesso, sonhamos com sucesso, lemos livros que prometem fórmulas de sucesso à prova de fogo. Louvamos, admiramos e algumas vezes mesmo adulamos servilmente o sucesso de outros. Outras vezes, secretamente, ou não tão secretamente, invejamos e levamo-lo a mal também. Parecemos acreditar que o sucesso implica necessariamente felicidade e realização, que a falta de sucesso só pode alimentar frustração e tristeza.

Mas aqui está a questão: apesar de toda a nossa preocupação com “sucesso”, quão esclarecidos estamos quanto ao que nós significamos com a palavra?

Na minha visão pessoal, sucesso devia ser definido tomando por referência a substância de uma conquista da pessoa. O que está alguém realmente a alcançar? Está a ajudar outros? Está a viver de acordo com o seu próprio potencial, que é único? Há paixão e originalidade na sua abordagem à vida e ao trabalho? Há valor fundamental no que está a tentar realizar?

Infelizmente, contudo, a minha impressão é que substância tem pouco a ver com o nosso conceito de sucesso, nos dias de hoje. Em vez de nos focarmos na essência de um empreendimento ou carreira, focamo-nos somente na recompensa que proporciona, geralmente avaliada em dinheiro.

Para apresentar as coisas de outro modo, parecemos focar-nos na recompensa, em vez de no processo. Esta errada colocação da ênfase desvaloriza toda a noção do que “sucesso” realmente significa. Como é comummente usada, de facto, a expressão “bem-sucedido” tem-se tornado pouco mais que sinónimo codificado de “bem-pago”.

Pensemos acerca disso. Em muitas situações sociais, seria considerado estúpido falar de alguém como “um cirurgião que faz uma pipa de massa”, ou “um executivo que é pago a peso de ouro”. Falando em termos gerais, contudo, quando as pessoas se referem a alguém como “bem-sucedido”, não é isso que elas estão realmente a dizer?

Longe de mim dizer que há algo errado em ganhar dinheiro; esse não é o meu ponto de vista aqui, de maneira nenhuma. O que eu estou a dizer, contudo, é que o dinheiro deve ser visto como consequência do sucesso, um efeito colateral, e não a medida do sucesso em si mesmo.

O verdadeiro sucesso vem de dentro. Em função de quem somos e do que fazemos. Ele emerge da misteriosa química das nossas competências, paixão, trabalho árduo e compromisso. Verdadeiro sucesso é algo que alcançamos privadamente e cujo valor determinamos por nós próprios.

O mundo exterior pode premiar-nos com dinheiro, mas não pode sagrar-nos com esta mais profunda e mais pessoal espécie de sucesso. Por outro lado, tão-pouco o mundo exterior pode fazer desaparecer o sucesso que temos granjeado no mais íntimo dos nossos corações. E isto tem enormes implicações de carácter muito prático.

Qualquer pessoa, que tenha mantido os olhos abertos nos anos recentes, terá notado que o nosso sistema económico pode ser instável, para dizer o mínimo. Uma carreira que é premiada num mês, é lesada no próximo. Um banqueiro de investimentos recebe uma chuva de bónus num ano, e é subitamente lançado no desemprego no ano seguinte. Um executivo é visto como estando na mó de cima… até que a firma entra em bancarrota.

O que acontece aos “sucessos” que essas pessoas alcançaram quando as coisas estavam a correr pelo melhor? Desaparece o sucesso tão depressa quanto a torneira do dinheiro é fechada? Se ele pode ser desfeito tão abruptamente, quão sólido pode ter sido no princípio? É possível que talvez tenha sido sempre ilusório?

Se aqui estivéssemos a falar só de dinheiro, estas questões não seriam tão importantes. Mas, de facto, estamos a falar de questões muito mais íntimas e cruciais, que estão ligadas com as nossas definições de sucesso, questões como autorrespeito, confiança e paz de espírito.

Se o autorrespeito de uma pessoa é proporcional ao tamanho do pagamento que recebe pelo seu trabalho, o que pensa ela de si mesma se o pagamento encolhe ou desaparece?

Se a confiança de alguém é baseada no próximo aumento ou próxima promoção, como se sente quando a sua progressão é travada?

E por que deve cada um de nós confiar no mundo exterior, instável e incontrolável tal como é, para dizer-nos, não exactamente o que o nosso rendimento será, mas o que nós valemos na realidade?

A conclusão mais importante, creio, é que a cega aceitação de uma definição de sucesso baseada no dinheiro é uma proposição cujo sentido é exactamente demasiado arriscado. Mesmo deixando de lado os imperativos de carácter intelectual e moral, para encontrar uma definição de sucesso mais sólida e significativa, a simples prudência devia afastar-nos da tendência de medir o nosso valor pelo que os outros nos pagarão.

É ao mesmo tempo leviano e arriscado deixar que seja o nosso extracto bancário a dizer-nos como estamos a construir as nossas vidas.” – Peter Buffett

Ricardo Babo

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