“Muitos de nós estamos dependentes do estado de espírito elevado que nos vem da aprovação por parte dos outros. Desde o berço que somos ensinados a desempenhar todo o tipo de truques para recebermos amor e atenção. A ideia de que temos de continuar a representar com vista a sermos dignos de amor fica com a maioria de nós para sempre. É frequente representarmos papéis diferentes consoante a audiência diante de nós, ou dizermos uma coisa e pensarmos outra, comprarmos a roupa apropriada, conduzirmos um carro topo de gama e procurar um companheiro que nos dê uma boa imagem quando com ele descermos a rua. Quanto maior for a aprovação que tivermos dos que nos rodeiam, tanto mais acharemos que somos boas pessoas. São muito poucos aqueles que compreendem que este é um dos grandes impedimentos a que nos apaixonemos e continuemos a amar.
Parte do estado de espírito elevado vem do conhecermo-nos através dos olhos de outrem. Mas esta é uma faca de dois gumes. Se os outros olham para nós com olhos de aprovação, sentimo-nos confiantes. Se nos olham de forma crítica ou desiludida, nós desiludimo-nos connosco próprios. Se os outros nem sequer olharem para nós, podemos até sentir que não existimos.
Se o sentido de si próprio de alguém é obtido através dos olhos de outra pessoa, estará sempre sujeito à perda. Aquela pessoa que num determinado momento nos admira tanto pode, de um momento para o outro, deixar de gostar de nós. Ou também pode acontecer que desenvolvamos qualidades novas que não lhe agradem. Um sem-número de circunstâncias pode surgir e alterar o equilíbrio e dar origem a que percamos esta sensação extraordinária de quem somos.
Esta é justamente a razão por que tantos relacionamentos começam maravilhosamente e, poucos meses depois, já estão a descarrilar. À medida que ambos vão revelando novas qualidades, vão começando a olhar-se com outros olhos. Começam então as críticas. O entusiasmo da sua inabalável adoração começa a dissipar-se como o ar num balão frágil. Embora possa ser doloroso, e muitas vezes até chocante, perder este entusiasmo não é assim tão mau. Quando amamos alguém porque essa pessoa nos adora, desnecessário será dizer que isso não é amor. Não é uma coisa saudável e o mais provável é que não dure muito.
«Um macaco que estava sentado à beira de um lago viu o reflexo da Lua na água. Extasiado, tentou apanhá-lo, chapinhando na água e salpicando tudo à sua volta. Quanto mais chapinhava, mais o reflexo o iludia, quebrando-se em mil pedaços com o movimento das ondas que ele provocava. O macaco nunca percebeu que se tratava de um reflexo. Por fim, desesperado por tocar na Lua, atirou-se à água e afogou-se. Bastava que o macaco tivesse parado de chapinhar e olhado para cima por um momento, e teria visto a verdadeira Lua no céu.» – História Zen
Quando paramos de chapinhar na água do amor, pomos de lado a nossa voracidade louca de aprovação e deixamos de procurar o nosso próprio reflexo nos olhos do nosso companheiro, começamos a descobrir quem realmente somos. A partir daqui, estamos apenas a um ou dois passos de sermos capazes de facilmente nos apaixonarmos.