“Embora todos nós digamos que queremos encontrar o amor, a maioria de nós passa grande parte do seu tempo a criar separação entre si e os outros. Quando estamos num relacionamento, é fácil encontrarmos defeitos no outro, fixarmo-nos em necessidades que não estão a ser supridas ou sentir que nos está a ser exigido demasiado. Sentimo-nos mais seguros e naturais quando declaramos qual é o nosso território, fixamos fronteiras firmes e sentimos que as necessidades e interesses dos outros são basicamente diferentes dos nossos. Muitos apreciam ter oponentes e inimigos, e sentem-se perdidos quando os não têm. Conhecem-se na oposição aos outros e acham excitante testar a força deles, entrar em competições, sair por cima e afirmar a sua superioridade e domínio. Esta pode, na verdade, tornar-se a sua principal fonte de identidade.
Uma grande parte da nossa educação encoraja este aspecto. Somos ensinados a comparar-nos com os outros, a conseguirmos o melhor para nós, a ganhar as competições e, acima de tudo, a não sermos tomados por parvos nem nos transformarmos no bobo da corte.
Grande parte daquilo a que se chama treino de relacionamentos consiste em aprender a ter sucesso na manipulação dos outros de modo a que consigamos que eles façam o que nós queremos, ou em influenciar e controlar a interacção. Encontrar alguém com quem casar ou viver junto é como fazer um bom negócio na compra de um automóvel. A pessoa torna-se um bem. O seu valor é determinado por aquilo que ela consegue dar, pela sua cotação no mercado e pela durabilidade do seu valor. Os homens que abandonam os casamentos na meia-idade, quando os filhos já são crescidos e a mulher está a envelhecer, a começar a sentir-se cansada, partem em busca de alguém que possa aumentar o seu valor aos seus próprios olhos e no mercado.
Quando vemos as pessoas como bens é impossível vivermos uma vida em que estamos apaixonados. Na verdade, apaixonarmo-nos pode ser considerado o negócio mais inútil, tolo e até arriscado em que nos podemos meter. Tornamo-nos vulneráveis, infantis, inocentes, felizes e nem sequer nos incomodamos a tentar manipular os que nos rodeiam. Não há necessidade de tal. Temos tudo o que queremos. Uma vida de amor é uma vida de confiança, serviço e felicidade. Contudo, muitos são os medos que nos impedem de abandonar as velhas formas. Alguns receiam que uma vez que tenham abandonado a sua prudência ou cessado de encarar o outro como um oponente, possam ser devorados. Não haverá qualquer esperança de manter uma identidade separada, pois estarão constantemente a sucumbir aos desejos do outro. O amor torna-se então a sua maior dependência e retira-lhes o poder. Estas pessoas vêem o amor como algo que é debilitante, não como uma fonte de autonomia e de força.