Só as Relações Íntimas Dão Sentido ao Caminho

“Ter uma relação de intimidade com alguém

não significa que possas abusar do outro, nem

que vivas feliz para sempre. É teres honestidade

e saberes partilhar os êxitos e as frustrações.

É saberes defender a tua integridade, alimentar

a tua autoestima e fortalecer as relações com os

que te rodeiam. O desenvolvimento deste tipo

de sabedoria é uma busca de toda uma vida, que

requer, entre outras coisas, muita paciência.”

Virginia Satir

 

“Para haver uma relação íntima verdadeira, o outro tem de me atrair.

Não importa que seja um homem, uma mulher, um amigo, um irmão… o outro tem de ser atractivo para mim. Tenho de gostar do que vejo, do que escuto, do que o outro é. Não de tudo, mas tenho de gostar dele.

Se, de facto, não gosto do outro, se não há nada nele que me atraia, podemos até ter uma relação cordial, trabalhar juntos, cruzar-nos e combinar coisas, mas não seremos íntimos.

Para ser íntimo de alguém, além da abertura, da confiança, do ser capaz de me expor, vínculo afectivo, da afinidade, da capacidade de comunicação, da tolerância mútua, das experiências partilhadas, dos projectos, do desejo de crescer e tudo o mais, como se não bastasse, o outro tem ainda de me cativar, de me atrair.

A atracção pelo outro não tem de ser necessariamente física. Posso gostar da sua maneira de falar, da sua forma de fazer as coisas, das suas ideias, do seu coração. No entanto, repito, a atracção tem de existir.

Há casais que desejam recuperar a intimidade, mas que, apesar de gostarem muitíssimo um do outro e terem uma relação de confiança mútua, sentem que algo aconteceu com o seu amor: perdeu-se. E confessam ao terapeuta, ao padre ou ao casal amigo: “Não sei o que se passa connosco, já não é a mesma coisa. Não temos vontade de estar um com o outro, não sabemos se ainda nos amamos.” Por vezes, a única coisa que aconteceu foi que a atracção deixou de existir há algum tempo.

Eu não posso sentir-me atraído pelo que foste, mas apenas pelo que és.

No entanto, recordo-me bem do dia em que te conheci. Penso nesse momento e a minha alma alegra-se com a recordação. É verdade, mas isso não é atracção, é nostalgia.

Posso amar-te pelo que foste, pelo que representaste na minha vida, pela nossa história. De facto, confio em ti por tudo o que passámos juntos, pela pessoa que demonstraste ser. Mas a atracção funciona no presente porque é amnésica.

A confiança numa relação íntima implica um tal grau de sinceridade com o outro que não contemplo sequer a possibilidade de lhe mentir.

É importante aceitar este desafio: ter a consciência de que o amor, a atracção e a confiança são coisas que acontecem ou não acontecem. E se não acontecem, a relação pode ser boa, mas não será íntima ou transcendente.

Digo sempre que a vida é uma transacção não comercial, uma troca directa em que se dá e recebe. A intimidade está muito relacionada com aquilo que dou e aquilo que recebo, sendo que por vezes isto é algo difícil de aprender.

Há quem acredite que tenha de dar sempre e vá assim pelo mundo, sem permitir que lhe dêem nada, achando que com o seu sacrifício consegue preservar o vínculo. Se soubessem como é detestável estar ao lado de alguém que está sempre a dar e nunca quer receber ficariam surpreendidos.

Pensam que são bons porque estão sempre a dar, “sem pedir nada em troca”. É muito cansativo estar ao lado de alguém que não pode receber.

Uma coisa é não pedir nada em troca do que dou, outra muito diferente é negar-me a receber algo que me dão porque decidi que não o mereço. No fundo, a mensagem que passo é: “O que me dás não me serve de nada”, “A tua opinião não me importa”, “O que é teu não tem valor” e “Não sabes”.

É preciso ter consciência do mal que fazemos ao outro quando nos negamos a receber o que ele tem para nos dar do fundo do coração.

A transacção que constitui a vida permite a reciprocidade da entrega, que é, claramente, um passaporte para a intimidade.

Não acredito que todos os encontros devam resultar em relações íntimas, mas defendo, sim, que só elas podem dar sentido ao caminho.” – Jorge Bucay

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