Tudo O Que É Importante Dá Muito Trabalho

“- O amor é fácil?

Mas tinha de ser?… Tudo o que é importante dá muito trabalho. Exige tempo e tempo e tempo! Não se conquista sem contradições. E – pior, talvez – apanha-nos sempre de surpresa. Isto é: nunca estamos preparados para o amor.

Porquê? – imagino que pergunte. Porque, às vezes, só gostamos de alguém porque gosta de nós. Ou gostamos da forma como gostam de nós mais do que gostamos de si. E, depois, porque duas pessoas são dois mundos diferentes. Duas histórias singulares. São um comboio de pessoas, mais ou menos coligadas. Têm sonhos que nem sempre se cruzam. Dois corpos com ritmos e sensibilidades muito suas. E compromissos que se atropelam. Tudo isso a precisar de se ligar numa mesma cumplicidade. É tudo isso que torna o amor difícil. E mágico! E nos torna fáceis (quando ele existe). Mas, ainda assim, é muito difícil o amor.

– Para que serve o amor?

Para descobrir que há sempre um milagre quando duas pessoas acreditam naquilo que sentem e creem uma na outra, ao mesmo tempo. É sempre preciso duas pessoas que se amem duma forma cúmplice – e além da necessidade de palavras – para que haja um milagre!

– O amor vale a pena?

Como não vale?… Trazer mistérios para a vida ajuda-nos a perceber que é com eles, e pela forma como se desvendam, que se vai do estranho ao maravilhoso. E – mais, ainda -, serve para descobrirmos que é por convivermos com aquilo que nos torna, por vezes, quase minúsculos, que o coração nos arrebata e nós crescemos.

No mundo das pessoas, o eu e o tu, sempre que vão a sufrágio, nunca ganham sem se coligarem. As maiorias absolutas fazem parte do campeonato de Deus. E mesmo aí, a propósito da forma como o amor se esquece de nós, há quem desconfie da justiça do “árbitro”.

– As pessoas lutam pelo amor?

Não! Nem sequer o escolhem. Receio que a maioria das pessoas viva o amor fazendo de Gata Borralheira. Oscilam entre um slogan que diz que “o mais importante é o amor”, ao mesmo tempo que, sempre que alguém luta por ele, deixam cair: “Ah! Tu ainda acreditas no Pai Natal!”

– Porque é que, a propósito do amor, “muito cedo se torna tarde demais”?

Porque as pessoas são pouco atrevidas quando se trata de desejar, simplesmente, o amor. E são pouco atrevidas porque talvez sejam mais tristonhas ou mais deprimidotas, por dentro, do que imaginam. Como se tivessem sido levadas a supor que aquilo que são nunca chegue para trocarem o certo (do desamor) pelo incerto (da paixão). Mas será certo viver em desamor e, pelo contrário, será incerta uma paixão?

– Porque é que somos tão batoteiros a propósito do amor?

Eu não acho que seja por não gostarmos de trabalhar. A preguiça é a batota a que deitamos a mão para fazermos de conta que o amor não quer nada connosco. Não trabalhamos tanto para ele como devíamos porque, no fundo, acreditamos menos nele do que vamos afirmando todos os dias.

– Ama-se a partir do zero?

Jamais!

– E é possível amar sem dor?

Também não. Sempre que a dor não cabe num amor, talvez nunca se ame.

Talvez, por tudo isso – e mais, talvez -, as pessoas trabalhem muito pouco para o amor. De forma estranha, reconheço. Porque, ao mesmo tempo que se contorcem com o desamparo da sua falta, o embrulham num “que se lixe o amor!” que não as cansa.” – Eduardo Sá

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