Aceitar a tristeza

“Tal como disse o Buda, a vida é sofrimento. Mas há magnificência nesse sofrimento. E além disso, não há verdadeiramente como lhe virar costas. É virando-nos de frente para o sofrimento que, paradoxalmente, descobrimos os nossos mais vívidos, vivos, eléctricos, sensíveis, sensitivos e sensuais eus.

Quando a tristeza assoma dentro de nós, está a ser-nos dada uma incrível oportunidade de integrarmos as feridas do passado. Está a ser-nos permitido experienciar o próprio tecido da nossa história. Talvez tenha acordado esta manhã e, por razão nenhuma, aparentemente do nada, sentiu tristeza. A sua tendência natural seria crispar-se ante ela. Força aí, camarada. Pense na maneira como choramos. Ou sufocamos as lágrimas e engolimos o nó que temos na garganta, ou damos vazão às lágrimas, que nos correm pelas faces abaixo, reais, verdadeiras e irrefutáveis.

Tome um momento e pouse o café. A menos que esteja a conduzir, feche os olhos. Sinta as ondas subirem e descerem dentro de si. Cavalgar essas ondas é um sentimento que gosta de manter ao largo. O que aconteceria se o sentisse? Imagine-o como um diminuto barquinho, empurrado pelas cristas das ondas que estão sempre dentro de si. O barco é algo intrincado de grande valor e beleza. É afinado e colorido pelo que significa ter-nos sido dado este precioso dom da vida.

À medida que o dia passa, permita que a vida tenha impacto em si. Quando vir uma criança a estender a mão para a da mãe, permita que o seu coração se abra. Quando vir alguém em dificuldades na rua, permita que o seu coração se abra. Quando tiver um desapontamento ou um revés, permita que o seu coração se abra. É esta a requintada passagem pela qual a vida se torna maior e mais rica. A sua tristeza não faz de si menos que um ser humano. Com efeito, faz de si mais.

Mais expansivo.

Mais conectado.

Dolorosamente belo.

Cru. Aberto. Completamente vivo.

Deixe a vida tocá-lo. E quando a vida o tocar, acolha-a com suavidade. Acolha-a com autenticidade. Deixe o seu coração fundir-se com os corações das pessoas à sua volta. Veja-se a si próprio nos rostos dos seres humanos seus semelhantes. Só por hoje, viva na verdade de que nada há a defender. Viva na verdade de que vulnerabilidade é poder. Viva na verdade de que a sua tristeza faz de si humano. Ao sair para o trabalho, o seu filho exclama: «Adeus, papá! Vou ter saudades tuas!» Sinta-o. Deixe o seu coração quebrar e abrir. Ao deixar o seu filho mais velho na escola, repare na mãe que transpõe a entrada com o filho de oito anos deficiente. Não desvie os olhos. Sinta-o. Sinta-o como se fosse você – pois é você. Ao parar no mercado, repare no casal de velhotes a fazer compras juntos. Estão casados há sessenta anos e ainda andam de mãos dadas. Sinta-o. Isto, também, é você. Passe de carro pelo cemitério onde os seus pais estão enterrados. Veja os milhares de sepulturas, as vidas outrora vividas. Sintas-as. Sinta-as todas.

Estes sentimentos não o vão matar.

De facto, estes sentimentos vão conectá-lo.

À sua própria história, e às histórias alheias.

Permita. Só por hoje, permita que toda essa tristeza entre. Sempre que sentir o seu coração, o seu corpo, ou a sua mente endurecer ante o que vê, deixe-se amolecer. Relaxe o abdómen. Inspire para o coração. Tome consciência do lugar suave e terno que está sempre dentro de si, qual luz piloto, brilhando suavemente. Essa luz aguarda um momento de consciente aceitação. Receba estes momentos. Experiencie-os. Viva a benção da sua vida especial e única.” – Panache Desai

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