“Ultimamente deparo comigo fascinado por uma forma de heroísmo específica: o tipo que recusa apressar-se. Vivemos numa sociedade em que predomina uma pressa crónica. A falta de tempo tornou-se numa indicação de importância e um modo de acumular auto-estima. Se não estivermos numa pressa constante, não somos ninguém. Se o nosso calendário, ou agenda, ou sistema de gestão do tempo não estiver cheio, não somos nada. Se o nosso telemóvel não toca constantemente, há motivos para duvidar da nossa existência. Se não estivermos ocupados, somos inúteis.
Mas terei a coragem de arranjar tempo para o pensamento criativo? Terei a coragem de dizer não? Terei a coragem de entrar num silêncio em que o meu telemóvel não toca, o meu calendário tem um espaço em branco adequado e ninguém me assegura quão importante e essencial sou? Estar indisponível requer grande coragem, porque ao procedermos deste modo, dizemos não a projectos potencialmente interessantes – se nos comprometermos com um projecto acima de tudo, não nos podemos comprometer com centenas de outros.
Este estado de espírito tranquilo não ocorre simplesmente; temos de optar por criar o silêncio e o tempo. Mas desafiar o modo de vida predominante requer coragem. Muitas pessoas sonham em desistir da eterna corrida; falam e tornam a falar disso, com grande nostalgia, mas poucas desistem realmente. Porquê? Porque ao abandonar aquilo que se considera normal entramos numa grande solidão, um terreno sem rumo – e isso é sempre assustador. Quando entramos nesse terreno, podemos ver vestígios de um dragão e sabemos que mais cedo ou mais tarde teremos de enfrentar esse animal.” – Tommy Hellsten