Dharma

“Alguns de nós conseguimos aceitar os outros no preciso lugar onde eles se encontram com muito mais facilidade do que nos conseguimos aceitar a nós mesmos. Sentimos que a compaixão é reservada aos outros e nunca nos ocorre senti-la por nós próprios.

Ao praticar sem uma ideia de como as coisas “devem ser”, a pouco e pouco, vamos descobrindo o nosso estado de vigília e a nossa confiança. A pouco e pouco, sem nenhuma exigência excepto sermos honestos e afectuosos, assumimos a responsabilidade por estarmos aqui neste mundo imprevisível, neste momento único, neste precioso corpo humano.

Todos os actos contam. Cada pensamento e emoção conta igualmente. Este é todo o caminho que temos. É aqui que aplicamos os ensinamentos. É aqui que chegamos a compreender porque meditamos. Só vamos estar aqui durante um breve instante. Mesmo que vivamos até aos 108 anos, a nossa vida será demasiado breve para testemunharmos todas as suas maravilhas. O dharma é cada acto, cada pensamento, cada palavra que proferimos. Estaremos minimamente disponíveis para, sem vergonha, nos autodenunciarmos quando damos por nós a tentar desenvencilhar-nos de uma situação? Será que aspiramos minimamente a não nos considerarmos um problema, mas pura e simplesmente um ser humano perfeitamente normal que, a qualquer momento, pode resolver dar uma folga a si próprio e parar de ser tão previsível?

É assim que os nossos pensamentos começam a abrandar. Como que por magia, parece que existe muito mais espaço para respirar, muito mais espaço para dançar e muito mais felicidade.

O dharma pode curar as nossas feridas; as nossas feridas mais antigas, que não derivam do pecado original, mas sim de um mal-entendido tão antigo que já não o conseguimos ver. A instrução consiste em relacionarmo-nos compassivamente com o lugar em que nos encontramos e começar a ver a nossa situação como passível de ser trabalhada. Estamos bloqueados em padrões de apego e fixação que levam a que os mesmos pensamentos e reacções ocorram vezes e vezes sem fim. É assim que projectamos o nosso mundo. Quando encaramos isso, mesmo que seja apenas por um segundo de três em três semanas, descobrimos naturalmente a maneira de inverter este processo de endurecimento das coisas sólidas, a maneira de deter o mundo claustrofóbico tal como o conhecemos, largar os nossos séculos de bagagem adquirida e pisar território novo.” – Pema Chödrön

Ricardo Babo

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