“Os seres humanos são criaturas interessantes. Julgamos dominar o mundo, mas, ao mesmo tempo, estamos alheios a ele.
Quando nascemos, soltam-nos neste estranho planeta, sem a mais pequena noção de como havemos de nos desenvencilhar. Então, tentamos entendê-lo – partindo da estaca zero, aprendemos a caminhar e a falar. Tentamos desesperadamente dar ares de quem encontra ordem e sentido no meio do mais absoluto caos. Será de admirar que gritemos como se nos estivessem a esfolar, ao nascer? E que atravessemos a idade dos «terríveis dois», uns anos depois?
Tal como não é nada fácil para os miúdos crescer. Aprendemos a dobrar delicadamente as mãos no colo e sentar-nos direitos à secretária. Aprendemos a domesticar as nossas facetas mais selvagens e indómitas; a aquietar o caos e a confusão. A controlar os nossos impulsos e emoções, através do silêncio, da repressão e de muito «colocar a rolha».
É da nossa natureza querer ter a vida sob controlo. Ninguém gosta da incerteza e todos nós queremos fazer boa figura nas nossas tentativas de dominar o tempo que passamos nesta terra. «Vejam só o meu nome ali nos créditos!», queremos dizer, ao longo da nossa vida e até no nosso leito de morte. «Sou eu! O argumentista, o realizador, o produtor e o coreógrafo – fiz tudo!»
E quase funciona. Por vezes, conseguimos controlar o resultado da nossa vida – pelo menos, em determinadas situações. Os maníacos do controlo tornam-se muito talentosos a coreografar determinados aspectos das suas existências e isso fá-los sentirem-se seguros e poderosos. Desenvolvemos excelentes recursos internos (criatividade, tenacidade, etc.) e redes externas (relacionamentos, negócios) para fazer com que as coisas nos corram de feição. E, durante uns tempos – talvez anos -, tudo parecerá estar sob o nosso controlo.
Mas, a certa altura, todos nós havemos de aprender que não podemos controlar tudo, a toda a hora. O êxito que tivemos nalgumas ocasiões só se deveu às «instâncias superiores» do universo, que decidiram colaborar connosco. Porém, num determinado momento da nossa vida, deixam de o fazer. As estrelas não se alinharão a nosso favor e sofreremos reveses. O mais certo é isso já estar a acontecer.
As rédeas da nossa vida não estão, nem nunca estiveram, apenas nas nossas mãos. A vida terá o seu voto na matéria.
Então, como havemos de lhe responder, quando ela se impuser?
Ao envelhecermos e fazermos as contas da nossa esperança de vida, começamos a perceber o quanto somos vulneráveis. A nossa mortalidade, a nossa espiritualidade e o nosso sentido de urgência compelem-nos a fazer as pazes com a vida e a morte.” – Ken Druck