“Criámos uma época caracterizada por uma falta de tempo crónica. Toda a gente vive apressada, correndo para a próxima reunião ou actividade, longe do momento presente. Temos a sensação de estar sempre a fazer a coisa errada no momento errado – de que já devíamos estar a fazer outra coisa. Há sempre outra coisa, algo mais importante a exigir a nossa atenção.
Devido a esta falta de tempo constante, ninguém está presente no aqui e agora e, como tal, não estamos presentes uns para os outros. Apressamo-nos, nunca encontrando realmente ninguém. Não estamos presentes uns para os outros, o que significa que não estamos presentes, de todo. Uma vez que nenhum de nós vê realmente outra pessoa – ou seja, ver para além da superfície, o verdadeiro eu – não há ninguém que testemunhe a nossa existência. E sem uma testemunha deixamos de existir.
Inventámos máquinas e dispositivos maravilhosos que deveriam ter melhorado a qualidade das nossas vidas. A tecnologia deveria ter-nos libertado de rotinas enfadonhas e levar-nos a poupar tempo – tempo que poderíamos então dedicar àquilo que consideramos verdadeiramente importante. O que sucedeu? Temos mais tempo? A julgar pela nossa pressa incessante, a resposta é negativa. O que aconteceu a todo aquele tempo que as nossas grandes invenções deveriam ter poupado para nós? Para onde foi?
Muitas pessoas geralmente queixam-se acerca da falta de tempo, como se isso fosse um dado consumado – um facto da vida que não pode ser evitado. Desejariam ter mais tempo, mas é evidente que isso está fora do seu controlo – não há nada que possam fazer acerca do assunto. Será realmente esse o caso? Quem é responsável por esta constante escassez de tempo? Será um facto imutável que simplesmente nos domina, ou teremos sido nós a criá-lo?
Uma observação mais atenta leva-nos a constatar facilmente que a pressa – a sensação de o tempo passar cada vez mais depressa – não existe como tal. O tempo continua a ter o seu próprio ritmo; continua a correr no seu passo eterno e firme. A essência do tempo não se alterou subitamente, durante a nossa geração. Ainda há tanto tempo como sempre houve e este não corre mais depressa. No entanto, sentimos que há menos tempo. Porque será? Tentaremos incluir demasiadas coisas no tempo que temos em mãos? Tentaremos encher o nosso tempo até que fique a abarrotar?
Evidentemente que seria mais fácil pensar que não há nada que possamos fazer acerca de toda a nossa pressa. Nesse caso, não teríamos de assumir a responsabilidade pelas nossas opções. Mas somos responsáveis pelo modo como utilizamos o nosso tempo. Não podemos servir-nos da pressa constante como desculpa para a falta de tempo, se isso não existe, para começar.
A falta de tempo crónica provém sempre de más opções. Toda a gente encontra tempo para fazer o que é importante para si. Quando tomamos opções na vida, optamos por aquilo que consideramos precioso; por outras palavras, os nossos valores orientam as nossa opções. Se não conseguimos decidir o que é realmente precioso para nós e o que não é, sentimo-nos impelidos a tomar o máximo de opções «preciosas» possíveis. Acabamos por encher a nossa vida de tantas coisas «boas», que não temos tempo para lidar com a abundância. Porque tomamos tais opções? A resposta residirá nos nossos valores? Os nossos valores fomentarão más opções?” – Tommy Hellsten