Libertar-se do Medo

“Se é um maníaco do controlo – e quem de entre nós não é pelo menos um bocadinho maníaco do controlo? -, a coisa mais difícil do mundo é libertar-se. Isso mesmo: libertar-se. Você quer microgerir todo e cada aspecto da sua vida. Julga que se não se focar em todo e cada detalhe, em todo e cada cambiante, a sua vida de desmoronará. Mas ao agarrar-se assim à vida, vive sob a ilusão de que pode controlar o universo.

Torna desnecessariamente a vida mais difícil e complicada do que precisa ser?

Quando anda numa montanha-russa, o que o faz agarrar-se com toda a sua força? Medo. Se é um perfeccionista, um maníaco do controlo, o que o faz querer agarrar-se a tudo e todos à sua volta? Isso mesmo: medo. Isto traz-me à lembrança duas amigas minhas que vivem no mesmo bairro. Estas duas mulheres andam pelos quarenta e poucos anos. São ambas inteligentes, instruídas, atraentes e bem-sucedidas. São ambas casadas e felizes, com dois filhos cada uma. As suas circunstâncias são muito similares – mas a perspectiva que têm da vida não podia ser mais diferente. Quando uma delas me liga para dois dedos de conversa, soa esfuziante, feliz, grata pelas dádivas da sua vida. Está repleta de histórias sobre os feitos dos seus filhos, o mais recente projecto do marido, os seus próprios triunfos no trabalho. Quando a minha outra amiga liga, todavia, começa com uma litania de reclamações. Está sempre presa ao volante de uma carro, a arcar com os filhos de uma ocupação para a outra. O marido é um relaxado. A carreira dela está a pique. Sente-se velha, e cansada, e maltratada pela vida. As circunstâncias destas duas mulheres são intercambiáveis. A diferença entre elas é que a minha primeira amiga olha para a vida pela lente do amor e a outra pela lente do medo.

Ou estamos no amor ou no medo.

Ou estamos focados no que temos ou no que falta.

Ou abraçamos a experiência ou nos fechamos à experiência.

Desde a altura em que nascemos, estamos numa montanha-russa; é a forma da própria vida, com os seus altos e baixos, as suas curvas, os seus picos e vales, as suas lentas subidas e vertiginosos mergulhos. Aqueles que gozam a viagem são aqueles que se libertam.

Isso requer o cultivar de um estado de maravilhamento.

Pense no modo como uma criança pequena é capaz de passar vários minutos a contemplar uma única flor. Ou no fascínio e deleite dessa mesma criança pelo copo de sumo derramado pelo chão. Algures ao longo do caminho, à medida que crescemos, perdemos essa sensação de pasmo. De deleite e prazer. Perdemos a capacidade de nos recostarmos e vermos a vida a desenrolar-se como se fosse o mais fantástico filme alguma vez realizado.

À medida que amadurecemos, tomamos consciência da montanha-russa. Tomamos consciência dos seus aparentes perigos, das suas abruptas quedas de dar volta ao estômago. Começamos a viver na sua antecipação em vez de apreciarmos o que temos mesmo à nossa frente.

Só por hoje, escave bem em busca desse infantil sentimento de maravilhamento. Ainda está dentro de si. Só tem de procurar. Comece por apreciar seja o que for que estiver à sua volta neste preciso momento. O seu copo de sumo de laranja. A formiga atravessando devagarinho a mesa da cozinha. A poça de sol no chão. A trepadeira de hera na parede e as graciosas reviravoltas que descreve ao longo do parapeito da janela. Seja o que for que vir, aprecie-o. Seja curioso. Assimile-o como que pela primeira vez. Agora, à medida que prosseguir dia fora, leve este sentimento de maravilhamento consigo para onde quer que vá. O portageiro. Como será a sua vida? O túnel que atravessa a caminho do trabalho. Como terá sido construir esse túnel? Imagine só! Que coisa mais espantosa!

Em vez de se deixar encerrar no minúsculo mundo dentro da sua cabeça, saia cá para fora, para a montanha-russa da vida. Só por hoje, goze a viagem.” – Panache Desai

Ricardo Babo

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