Lidar Com a Culpa

“As pessoas minadas de culpa não se atrevem a ser abundantes ou felizes porque acreditam fundamentalmente que fizeram algo hediondo. Mas apenas pensam nos seus seres passados. Esquecem-se de que apenas operavam a partir do estado de consciência de então.

A culpa é uma energia insidiosa, pois consome as pessoas. Por vezes a culpa nem sequer é sua. É algo que lhe foi inculcado pelos seus pais ou talvez por uma instituição religiosa. Os nossos mundos interiores estão frequentemente cheios de pensamentos sobre as formas como fizemos asneira. Talvez tenhamos feito asneira deixando-nos ficar enquanto algo horrível acontece a uma pessoa. Ou tenhamos feito de alguma forma batota, ou mentido, ou deixado-nos extraviar. Fosse o que fosse, essa culpa acumula densidade dentro de nós quando nos agarramos a ela. Vinte anos mais tarde, carregamos ainda com todas essas histórias de um lado para o outro como se de pesada bagagem se tratasse. Elas atormentam-nos e interpõem-se na nossa evolução.

A culpa incapacita-nos de receber tudo o que a vida nos oferece. Se a vida nos presenteia com relacionamentos, oportunidades, dinheiro, tudo sabotaremos por não nos sentirmos merecedores. Castigamo-nos, sem fazer de todo ideia porque o fazemos. A culpa tranca a realidade do desmerecimento. Pode amarrar gerações. A culpa numa linhagem familiar é como uma corda de roupa que se estende através do tempo.

Mas nós podemos romper o ciclo. Não que alguma vez queiramos esquecer o que se passou ou sancionar o que ocorreu. Mas podemos situar a culpa na devida perspectiva.

Reúna as partes culpadas de si próprio. Abrace-as. Traga à mente algo de que se sinta terrivelmente culpado. Pode ser qualquer coisa a que se esteja a agarrar – desde a tablete de chocolate que roubou da loja da esquina em miúdo, até à aventura amorosa que teve ou quis ter. Reconheça a distância entre o então e o agora. A evolução que advém do tempo permite uma maior tomada de consciência. Permita a energia subjacente que sustém a energia no lugar, pronta a assomar. Essa energia é quase sempre tristeza. Sinta-a. Sinta-a toda. Olhe para trás para o seu eu passado com esse mesmo amor. Permita bem mais amplidão do que a que tinha quando se envolveu em seja o que for a que se agarra agora. Não pode fazer-se refém. Tudo o que pode fazer é ir ao encontro dessa versão de si mais jovem e menos evoluída com compaixão e equanimidade. Afinal de contas, neste momento – hoje – faria as coisas de modo diferente se pudesse. Portanto abrace-se. Ampare-se. E liberte-se. Tudo bem que siga em frente.” – Panache Desai

Ricardo Babo

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