“Não é fácil ser homem. Lá por nos armarmos em duros ou imperturbáveis, isso não significa que não soframos de forma profunda e intensa.
À semelhança de qualquer ser humano, os homens sentem a tragédia e a perda. A diferença reside na forma como lidamos com elas. Se perdemos o emprego ou alguém que amávamos, tentamos manter a compostura. Infelizmente, essa mentalidade não mudou muito, ao longo dos anos, tal como as raparigas ainda equacionam a beleza física com o automerecimento. Combatemos as lágrimas por termos receio de que, ao chorarmos, possamos parecer fracos. Mas, independentemente de conseguirmos ou não manter as lágrimas à distância, nunca deixamos de chorar por dentro. Sim, como homens, aprendemos a chorar por dentro. E fazemo-lo a toda a hora, silenciosa e secretamente. É um dos segredos que os homens ainda mantêm. Podemos parecer calejados e insensíveis, mas, na verdade, somos extremamente sensíveis. Apenas nos ensinaram a guardar para nós esses sentimentos «delicados».
Do que é que temos tanto medo? Na realidade, de várias coisas. Em primeiro lugar, temos medo de perder a reputação ou o estatuto.
Como homens, esforçamo-nos muito por obter respeito e prestígio. E, para tal, sentimos muitas vezes a necessidade de corresponder ao ideal cultural do que significa ser um homem. Os mais celebrados são os homens fortes e duros – são os cowboys nos velhos westerns ou os super-heróis que mais glória têm (e as meninas bonitas). A mensagem é que homem que é homem ganha o respeito dos outros sendo duro – chorando é que não.
Com a pressa de crescer e ser um homem, abandonamos o rapazinho em nós que queria e precisava de amor e validação, mas se viu obrigado a «ser um homem»! A sociedade era, e é, inclemente. Fomos encorajados a esquecer esse menino – a enterrá-lo bem fundo, nas nossas psiques, porque ele representa uma ameaça. Pode envergonhar-nos, expor a nossa faceta vulnerável e «delicada», ou fazer-nos ser despromovidos em estatuto na «Escala Masculina». É muito por essa razão que afastamos as nossas mães na adolescência – por medo de que nos considerem um «menino da mamã». Em muitos aspectos, somos prisioneiros da insegurança do estatuto.
Mas esse menino não se perde para sempre. Apenas se perde de nós. Assumimos todos os trejeitos e poses que compõem a caricatura de um homem «feito». Que tem tudo sob controlo. Mas todos nós ainda temos partes muito jovens que nunca aprenderam que não faz mal ser humano. E, quando menos esperarmos, essas partes jovens em nós aparecem para nos surpreender. Podemos estar no cinema, num funeral, a ler em voz alta para os nossos filhos, ou num casamento, quando, de repente, as emoções nos vêm todas ao de cima e transbordam. Há qualquer coisa que cede e que nos impede de continuar a negá-las.
Temos uma reacção imediata e espontânea quando revelamos inadvertidamente uma parte jovem e vulnerável de nós próprios. Demonstrámos o nosso amor – e, agora, temos de disfarçar.
Mas você não tem de ser assim. Compreender as facetas jovens e inseguras de si próprio e aceitá-las liberta-o. Homem que é homem chora e não faz mal. Aliás, faz-lhe é bem.
Quando choramos, o nosso cérebro liberta endorfinas que nos enchem o organismo de substâncias químicas de bem-estar e nos moderam os humores. Suspirar tem o mesmo efeito. É por isso que no yoga lhe ensinam a respirar e a suspirar. A emissão de sons vibratórios – como um simples «om»- também lhe pode acalmar o corpo e descontrair a mente.
Chorar nem sempre tem de ser contraindicado. No momento certo e no local adequado, é incrivelmente libertador expressar a mágoa ou a exuberância que sentimos, sem vergonha e sem jogar à defesa. É uma expressão poderosa e autêntica da sua humanidade – ou do que significa ser humano e de carne e osso. Ouvimos muito dizer: «As pessoas respeitam-te pela tua imagem, mas amam-te pela tua vulnerabilidade.»
Quando nos permitimos baixar a guarda e aceder ao âmago da nossa humanidade, não perdemos nada. Encontramos, mesmo que «o que» encontramos tenha estado latente, sob a nossa fachada de dureza, durante muitos anos. É claro que algumas das pessoas da nossa vida talvez se sintam incomodadas por nós nos tornarmos mais verdadeiros e abertos – e talvez nos julguem. Mas, por outro lado, talvez sintam que finalmente conseguiram chegar ao nosso «verdadeiro ser» e se aproximem mais de nós. O que nos liberta é o facto de deixarmos de fingir, disfarçar e nos julgar internamente, como se fôssemos menos homens, ou mulheres.
Essa liberdade recém-descoberta, une-nos de uma forma mais profunda, significativa e satisfatória a nós próprios, às nossas vidas e aos outros. Quando insistimos em aceder ao que é verdadeiro, fazemos sair o melhor que há em nós e nas pessoas que nos rodeiam.” – Ken Druck