“Ainda ontem ouvi na telefonia que usar um determinado tipo de óculos “dirá ao mundo quem você é”. “Não, isso é que não!”, respondi eu, bem alto, ao anúncio enganoso, “Mas PARAR pode!”
Des-pistados, prestamos atenção àquilo que não nos revigora, prestáveis, saudáveis, afáveis, nem sequer tem importância, enquanto esperamos que aquilo em que nos concentramos seja tudo isso para nós. Distraídos, perdemos momentos importantes. Passam por nós e nem sequer damos por eles: um telefonema de um velho amigo, uma visão momentânea de uma lua cheia através das árvores sombrias, a observação ou pergunta de uma criança, a luz e cor de um fim de dia outonal – tudo nos passa ao lado, sem intercepção, sem registo, sem utilização, e finalmente perdido. Nem sequer reparamos que não reparámos.
É difícil classificar as distracções porque quase tudo se pode tornar uma distracção e quase tudo pode passar a ser nobre. Tem muito a ver com o facto de estar desperto. Uma pessoa atenta pode dizer a uma distracção, “Não passas de uma mentira e não te dou qualquer importância nem tens qualquer influência na minha vida.” A pergunta-chave é sempre, “O que se está, de facto, a passar aqui? Qual é a verdade desta situação?”
PARAR permite-nos prestar a atenção necessária para poder criar prioridades na vida. Desta forma, PARAR é como a morte de um amigo. Leva-nos a valorizar e apreciar cada momento da nossa própria existência como algo sem preço e insubstituível. Podemos formular as grandes e importantes interrogações: “Estarei a fazer aquilo que realmente quero fazer?”
Estar atento tem muito a ver com reparar. Gosto realmente da palavra reparar. Implica uma série de coisas. Reveste-se de uma ausência de urgência e quietude. Quando reparamos em coisas ou momentos, aceitamo-los, consideramo-los e registamo-los. Passam a ser nossos, não de uma forma arrebatada, mas de uma maneira amigável e útil.