“As partes da sua personalidade que têm medo acumulam tudo o que sentirem que as irá beneficiar, quer se trate de conhecimento, afecto, peças em duplicado ou alimentos. Por mais que tenham, receiam não ter o suficiente – por exemplo, tempo suficiente para concluir um projecto, de maneira que ficam zangadas quando as interrompem, ou afecto suficiente, o que as deixa ciumentas quando os outros o recebem, etc. A escassez que receiam não está no seu futuro, mas no seu presente. Ela rodeia-as, e elas rodeiam continuamente a escassez.
Os animais armazenam comida para o Inverno, mas não armazenam mais do que necessitam. Nós também acumulamos para o futuro, mas quando as nossas necessidades parecem crescer continuamente, o que acumulamos continuamente parece ser inadequado. A solução não está em acumular cada vez mais, mas em averiguar com mais exactidão o que é necessário – e isso é difícil quando estamos assustados.
Quando a escassez existe internamente para si, a abundância exterior não irá preenchê-la. A escassez que cria a necessidade de acumular é uma escassez de amor-próprio. Isto é, o desdém por si próprio, o autodesprezo e o ódio pessoal não podem ser curados com dinheiro, reconhecimento, afecto, atenção ou influência, já que, por mais que possa ganhar, a necessidade de ter mais permanece, tal como o horizonte em permanente expansão, que nunca se alcança por mais que se viaje.
A abundância interior consiste em perceber que você merece a sua vida, reconhecer o potencial de crescimento espiritual que as suas lutas lhe proporcionam e confiar no Universo. Ela também é a alegria de estar vivo, reverenciar a sua responsabilidade pelo que cria, descontrair-se no momento presente e saber que dispõe de ajuda não-física quando precisar.
Ou seja, a abundância interior é autocompaixão e autoapreço. Abre-se assim ao mundo e aos outros, e dá tudo o que pode e aceita tudo o que lhe dão.
O Sol aquece tudo e não precisa de apreço ou reconhecimento. Do mesmo modo, a abundância interior irradia de si como um Sol.
Por vezes, é mais fácil permanecer em silêncio do que partilhar o que é difícil de dizer. Por exemplo, se pensar que foi enganado, é preciso coragem para dizer isso à pessoa que acha que o enganou. Partilhar exige que se goste do outro. Se não gostar dessa pessoa, quando estiver zangado com ela deixar-se-á levar pela raiva e não terá verdadeiramente interesse em chegar até ela, mesmo que passe horas a explicar porque está zangado.
Ao partilhar, será motivado pelas partes saudáveis da sua personalidade.
É preciso ter coragem para partilhar emoções dolorosas com aqueles que sentimos que lhes deram origem – enfrentar a possibilidade de rejeição -, assim como in-tenção de criar uma amizade, mas se deixar permanecer a distância criada pelo juízo de valor estará a perder poder.
Partilhar é diferente de queixar-se, que é uma tentativa de tornar os outros responsáveis pelas nossas experiências. Uma queixa é uma exigência de que o outro mude para nos sentirmos mais confortáveis. Ou seja, é preciso que alguém aja de um modo diferente para nós não termos de o fazer. A partilha é uma comunicação com a intenção de nos curarmos a nós próprios, de criarmos de uma maneira construtiva e de nos aproximarmos de outra pessoa.
Mesmo que sinta receio do que precisa de fazer para partilhar, irá sentir gratidão pela oportunidade, já que a partilha o enche de energia e faz sentir-se realizado. Quando não partilha o que a sua alma quer partilhar, a alegria abandona-o, o sentido torna-se alheio, transformando-o em alguém rígido e irritadiço.
A maior dádiva que pode dar é a sua presença. Quando escuta com toda a atenção, sem pensar como vai responder, no jantar que está a planear ou nos seus projectos, concede a dádiva da sua presença. Está atento, sente, é livre de escolher as suas in-tenções e criar conscientemente as suas experiências.
Quanto mais partilhar, mais tem para partilhar. Dentro de si vão surgindo imagens e percepções, orientando-o e iluminando as suas escolhas. Quando partilha o seu carinho, a sua paciência e abre o seu coração, você brilha como o Sol.
É assim que a sua alma quer partilhar.” – Gary Zukav