Se Amar É Muito Difícil, Amar Outra Vez Dói Bem Mais

Como se pode voltar a confiar depois de nos sentirmos traídos? Como se pode confiar quando só se sabe desconfiar?

Alguém sobrevive a uma separação mantendo, sem que ela adoeça, a sua competência para a paixão? As separações aguçam ou comprometem a fé, que todos temos, num amor a sério e verdadeiro? As pessoas separam-se por que se cansaram de acreditar no amor ou porque acreditam nele? É possível confiar no amor quando, depois de nos divorciarmos, a pessoa de quem nos separámos continua a “dormir connosco” e, contra a nossa vontade, continua a entrar nos nossos sonhos (por mais que, à conta disso, eles não passem de enormes pesadelos)? Como é que nos tornamos capazes de nos apaixonarmos outra vez quando saímos dum divórcio, financeiramente, mais pobres, com filhos, com mais encargos e a ter que conviver, mais ou menos para sempre, com a pessoa com quem escolhemos não estar?

Nunca se ama “à segunda vez” como se amou “à primeira”. De modo algum porque um primeiro amor seja mais maduro e profundo como só um amor maduro pode ser. Mas porque as dúvidas, os medos e as desconfianças que se vão sedimentando de outras relações transformam cada novo amor num corropio de contradições, próprias de um amor verdadeiro.

Como se pode confiar quando, sobretudo, se põe em dúvida e se desconfia?… Amando com mais transparência e com mais verdade. Nunca amando de malas à porta. Nunca amando com um pé numa relação e o outro noutra, diferente. Nunca amando a olhar para trás.

Daí que o Dei-lhe uma segunda oportunidade, tão banal aos nossos ouvidos, acabe por ser: Dei-me uma segunda oportunidade. Ou, de forma mais clara: Dei-me A oportunidade. Por mais que um novo amor corra o risco de ser uma permanente cisma do género: Diz-me que não és ele (“o outro”, claro). E lhe apresentemos um ror de “facturas” de outros amores que tenhamos vivido, como se um novo amor precisasse, primeiro, de exorcizar os nossos “fantasmas”; depois, de espantar os nossos medos; para que, a seguir (de preferência, até à exaustão), o coloquemos em dúvida.

Como se pode voltar a amar quando nos sentimos traídos? Não dando nunca menos que o máximo de nós. Nunca traindo aquilo que esperamos do amor. Nunca escondendo partes de nós que sintamos “feias”. Nunca ocupando “pouco espaço” no “nosso” amor. Nunca deixando que o amor adoeça com o rancor que nos ficou doutros amores. Não permitindo que a culpa, que nos abala, inquine a gratidão que o amor nos deixou.

Se amar é muito difícil, amar outra vez desnuda, exige, revolve e dói bem mais. Mas só isso nos leva a descobrir que talvez não haja amor como “O segundo”.” – Eduardo Sá

Ricardo Babo

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