“Na nossa cultura ocidental construimos uma sociedade mais segura do que muitas outras. Conseguimos erradicar praticamente a fome, a sede, a guerra e o frio. Eliminámos confrontos com a morte e o sofrimento das nossas vidas quotidianas – apenas a umas gerações de distância de uma época em que as pessoas normalmente sofriam e morriam em casa. Embora não tenhamos obtido controlo sobre a morte, conseguimos criar circunstâncias que mantêm a morte o mais afastada possível da nossa existência diária. Ao longo das eras, as pessoas procuraram cada vez mais as suas vidas nas grandes cidades, refugiando-se das catástrofes naturais e da insegurança. Embora a natureza esteja fora do nosso controlo, nas cidades sentimo-nos seguramente distantes dessas ocorrências, vivendo num mundo artificial sob a ilusão de um controlo quase perfeito.
Ao eliminar todo o drama natural da nossa sociedade, somos facilmente embalados por uma noção de que a própria vida pode ser controlada. Começamos a pensar e a crer que a vida não pode – e não deve – tocar-nos ou magoar-nos. Colocamo-nos acima da imponência dos processos naturais da vida, ditando condições e fazendo exigências. Trata-se de uma tragédia, pois ao procedermos deste modo perdemos as nossa vidas: a nossa existência pode parecer segura e totalmente sob controlo, mas a própria vida já não se encontra presente. No entanto, a vida não pode ser enganada e recusa-se a ser observada de uma distância segura. A vida não oferece posições seguras e, por conseguinte, não oferece modo de evitar ferimentos, nódoas negras e marcas de sujidade – pelo contrário, só aguentando a dor do infortúnio poderemos saborear verdadeiramente as alegrias triunfantes da vida. Estas duas coisas são inseparáveis; não podemos ter uma sem a outra.” – Tommy Hellsten