“Tem muita coisa a fazer hoje, certo? Uma agenda a abarrotar. A sua vida dá a sensação de ser um circo de três arenas. Às vezes sente-se como se precisasse de toda uma equipa de assistentes só para lhe fazer face. Tanto que fazer! Tantos lugares onde ir! Comboios, aviões, e automóveis! É subjugador só de pensar.
Por isso aqui está uma gentil sugestão: Não pense.
Não pense nisso.
Quando nos focamos nas pilhas e pilhas de afazeres e detalhes, no vacilante monte de contas, nos formulários da escola, nas declarações fiscais, até nos catálogos que aparecem diariamente na caixa de correio, no puro estofo da vida, pode parecer impossível sairmos de lá debaixo.
E se eu lhe dissesse que foi você que se pôs lá debaixo?
E que só você se pode tirar de lá?
É a mente que transforma estes montículos em montanhas. Temos de levar os nossos filhos à escola e chegar a tempo de uma reunião de pequeno-almoço, mas de súbito parece-nos que embarcámos para uma viagem de trekking ao Nepal. Temos uma tarde muito ocupada e, só de pensar nisso, bem podemos estar empoleirados na porta de um pequeno avião, com um páraquedas às costas.
Isto é o que fazemos com a nossa realidade.
Mas nada tem a ver com o que é real.
O que é real é sempre muito simples. Momento a momento, podemos atender à tarefa em mãos – ou podemos criar estruturas bizantinas a toda a volta, cheias de passagens secretas e cavernosos corredores que nada têm a ver com a tarefa em mãos.
Quando um pintor aborda uma tela branca, tudo o que é possível é uma única pincelada de cada vez. Se o pintor tentar pintar a tela inteira de uma vez, o que aconteceria? Que trapalhada!
Uma pincelada de cada vez.
Um alento de cada vez.
Uma palavra de cada vez.
Um pequeno gesto de cada vez.
É tudo o que é possível fazer – e contudo tantas vezes nos pomos à frente de nós próprios e nada fazemos no processo senão ficarmos feitos num oito.
Temos tempo.
Criamos estes cenários subjugadores que nos tornam ineficientes e indisponíveis. Somos movidos por uma falta de confiança. Por uma vaga de medo. Por uma necessidade de controlar. Por uma resistência à mudança. Por uma incapacidade de fluir.
Mas quando estamos verdadeiramente envolvidos com a tela branca da nossa vida, momento a momento, emerge uma qualidade intemporal. O tempo simultaneamente voa e abranda, à medida que nos deixamos por completo imergir naquilo que fazemos.
Só por hoje, faça uma prática de tentar viver plenamente em cada momento. Saiba que isto é impossível – mas a prática permitir-lhe-á viver a tela branca da sua vida.
Simplicidade.
Amplidão.
Clareza.
Uma mente destravancada.