Parar e Contemplar

“Quando algo nos perturba, quando acontece qualquer coisa na nossa família ou na nossa comunidade que não é do nosso agrado, queremos alterá-lo de imediato. Sentimo-nos tentados a fazer uso do pouco poder de que dispomos, enquanto pai, mãe, professor, alguém, para alterarmos a situação. Este é o momento exacto para pararmos e contemplarmos. Devemos praticar a observação profunda da natureza daquilo que nos perturba para descobrirmos a resposta mais adequada e compassiva.

Existem muitas formas de partilharmos a nossa orientação, o nosso conselho. Se partilharmos movidos pela compaixão, seremos eficazes e estaremos a ajudar. Podemos ser pouco habilidosos na nossa orientação, mas ao longo do processo iremos aprender a partilhar de um modo que não gere sofrimento, que não afaste os outros de nós. Temos de estar constantemente atentos para percebermos se estamos a orientar ou a ensinar movidos pela fama, pela riqueza ou por um tipo de poder superficial.

Se não nos detivermos num olhar superficial, perceberemos que as pessoas ricas e poderosas também têm uma grande dose de sofrimento e também geram muito sofrimento à sua volta, apesar de toda a sua situação privilegiada. Embora detenham muito poder, caem muitas vezes no abismo do desespero e do sofrimento. Os nossos líderes políticos e económicos apreciam o poder que têm, mas também sofrem com ele. Está na altura de reconsiderarmos o significado do poder e de alterarmos a direcção da nossa vida. O filósofo Jean-Jacques Rousseau escreveu: «O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o soberano, a menos que transforme a força em direito, e a obediência em dever.» Se o poder for sentido como ilegítimo será desafiado por aqueles que são menos poderosos. Mas, quando o poder é visto como legítimo e é acompanhado por autoridade espiritual, é apreciado e até reverenciado.

Os líderes do mundo dos negócios, os correctores de valores e os políticos procuram o poder financeiro e político. E parece nunca haver poder suficiente. Os budistas e muitos outros investigadores espirituais também querem ter poder, mas eles procuram os poderes da fé, da diligência, da atenção, da concentração e do insight. Estes poderes são ilimitados e nunca causam mal a ninguém, nem ao próprio.

O dinheiro e a fama não são nocivos em si mesmos, mas se não soubermos lidar com eles, tornam-se prejudiciais. A forma como usamos o dinheiro, como usamos a nossa fama, pode levar-nos, e a muitas outras pessoas, a sofrer. Se formos sábios e detivermos poder espiritual, então, o dinheiro e a fama não nos poderão prejudicar. Na verdade, podem ter utilidade. É possível utilizar o dinheiro e a fama com sabedoria de forma a aliviar o sofrimento e a gerar a felicidade. O facto de o dinheiro e a fama se tornarem úteis ou destrutivos, depende do modo como os utilizamos.” – Thich Nhat Hanh

Ricardo Babo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado.